A crise na educação familiar contemporânea

Posted By on mar 12, 2015 | 0 comments


A crise na educação familiar contemporânea

 

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O que sustenta esta percepção, esta ideia comum e esta sensação de crise?

Podemos aludir a uma desautorização de duas instituições que educam as crianças e jovens: a família e a escola. Hoje não são apenas elas e nem sempre o foram. Apenas nos últimos 300 anos a família e escola tiveram como tarefa moldar o futuro das crianças e jovens, para serem o que os pais não conseguiram ser, e de serem mais que os pais.

Para isto, diante de tantas dificuldades econômicas e culturais, havia o gesto de renúncia dos pais pelas as crianças. Hoje a renúncia persiste, mas há outros elementos. Temos crianças de 40 anos em casa, devido a tantas atividades, cursos e obrigações intelectuais e físicas.

O que se passa conosco, para criar as crianças desta maneira? Por que colocamos tantas atividades para elas, sem deixar espaço para elas serem crianças?

Educar crianças nunca foi fácil, mas esta quantidade de atividades também têm mostrado um excesso de proteção e cuidados, que estão transformando-os em “monstros”. Não sabemos mais quem são nossos filhos. Quem são estes seres que habitam conosco?

Criamos uma geração autônoma, que se educa sozinha, principalmente nos extratos de classe média. Ao mesmo tempo temos um cuidado, que chega a ser de proteção absoluta, em contraposição com nossos pais. Para quem se lembra, muitas vezes nossos pais diziam “não quero saber”. Este modelo é fadado ao fracasso, pois é de redoma, que cria pouca vida partilhada com eles.

Além disso, com a perda do monopólio educativo, antes apenas de posse de pais e educadores, houve a perda concomitante da autoridade e o espraiamento da função educativa. Todos educam, mas quem é o responsável realmente pela educação do filho?

Esta sensação de crise, portanto, também deriva das novidades de todos os dias para estes seres que têm informações muito além da escola: internet, tv, etc.

A educação vai muito além de informações. Passa pela formação emocional e moral dos filhos, impossível de ser feita pela internet ou tv ou mesmo apenas pela escola.

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Assim, a perda do monopólio cria outros questionamentos. Somos bons pais e bons educadores? Nossos pais não tinham dúvidas, pois o mundo era de segurança, marca do mundo sólido. Hoje nós as temos. No presente não temos mais certeza de nada.

A sensação de crise deriva também da perda paulatina ou irreversível da serenidade, em que podíamos deixar para mais tarde o que não poderia ser respondido agora.

Hoje não temos mais este tempo e nem paciência, pois parece que o tempo não resolve mais. Não suportamos mais a nossa dor, e tampouco que nossas crianças suportem dor e desconforto.

Além de amigos, os pais precisam ser pais dos filhos, pois só ser amigo do filho inviabiliza a educação do mesmo. E os pais precisam ajudar os filhos a passar pela dor, para capacitá-los em atuar com acerto e retidão e reagir ao meio hostil com nobreza, ter senso de responsabilidade e boas maneiras no trato com os semelhantes.

Vamos refletir em ideias para nos orientar nesta reconversão da crise na educação.

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As crianças não são de cristal. É preciso que sofram um pouco. Preparar a mente e o coração dos nossos filhos para as inevitáveis provações e tentações na existência. Do enfrentamento do mundo que hoje é, conseguirão criar um novo mundo. Desde que tenham se tornado mais fortes através de orientação e do enfrentamento.

O futuro das crianças é aleatório. Não conseguiremos planejar os seus destinos. É preciso ajudar o outro a encontrar saídas, que serão muitas vezes erradas, mas que em algum momento darão certo.

Sermos generosos e rigorosos no ato de educar, não privatizando nossas responsabilidades intransferíveis, mas deixar as crianças crescerem em paz. E, finalmente, não esquecer de partilhar a vida com eles, pois ela é muito breve.

Elizabeth Bento – Professora

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